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Enfim saiu a tão esperada terceira expansão de GW2! Guild Wars 2: End of Dragons foi lançada no dia 28 de Fevereiro e durante esse primeiro mês de gameplay pude conhecer esse novo continente tão famoso no primeiro jogo: Cantha. Não joguei a expansão Factions lá no antigo Guild Wars, então com a chegada da EoD tive meu primeiro contato com esse continente tão diverso do resto de Tyria. O mais legal é que a história dessa expansão se passa mais de 200 anos depois da história de Factions e agora Cantha vive seu auge tecnológico, com avanços na mineração do Mar de Jade, o que causa um impacto direto na jogabilidade da expansão.

Pra poder jogar End of Dragons sem transtornos, fiz economias e na loucura comprei um computador novo T_T Dessa vez pude tirar screenshots um pouco melhores que as da postagem anterior dessa série, uma vez que a expansão também traz mudanças na engine gráfica do jogo, rodando melhor em DirectX 12. Trago aqui, então, retratos de alguns dos meus locais favoritos de Cantha - pretendo atualizar essa postagem com mais algumas imagens no futuro. Lembrando que todas são screenshots que tirei in game e dessa vez fiz edições muito mínimas somente em algumas delas, pra aumentar contraste, iluminação e etc.

Bem-vinde à Cantha!

"Jade Monument" (New Kaineng City)

"Saint Anjeka's Shrine" (The Echovald Wilds)

"Aspenwood Research Facility" (The Echovald Wilds)

"Qinkai Village" (The Echovald Wilds)

"House zu Heltzer" (The Echovald Wilds)

"Xunlai Jade Quarry, Residential District" (Dragon's End)

"Warehouse District" (Dragon's End)

"Argo Crawler" (Dragon's End)

"Frozen Sea Monastery" (Dragon's End)

"Southern Bluff" (Dragon's End)

"Temple of the Fallen" (Dragon's End)

"Speakers Encampment" (Dragon's End)

"Shinota Shore" (Seitung Province)

"Shinota Shore House" (Seitung Province)

"Kaineng Overlook" (New Kaineng City)


Foi com pouca animação que Anton fechou a porta do carro ao pisar com os dois pés no chão daquele posto de gasolina. Estavam ali para encontrar um pessoal amigo de Steve, que provavelmente compunham algum círculo alternativo desses que muito se vê na noite. Ele, simples como uma porta de madeira, vestiu a carapuça social jurando a si mesmo não manter a carranca por muito tempo. Saiu apressado atrás de Steve, tentando manter o passo, mas a natureza corpórea do amigo – as pernas esguias – proporcionava um largo caminhar, difícil de acompanhar. Isso era uma das coisas em Steve que ultimamente o irritava. De nada adiantaria pedir para que esperasse, pois o outro já estava de sorriso aberto, passeando de encontro à trupe que se encontrava estacionada logo à frente.
Eram quatro pessoas. Anton sabia que um deles era uma celebridade underground famosa na cidade, que estampava algumas capas de revistas e dava entrevistas coletivas. Infelizmente, não era do feitio de Anton assistir muita televisão e justamente por esse motivo ele não tinha a mínima noção de qual deles poderia ser o tal. Deu de ombros, certamente descobriria cedo ou tarde. Steve chegou oferecendo abraços e beijos aos quatro indivíduos, dando chance a Anton de fazer o mesmo. Eles eram como o já imaginado: belas faces brancas enfiadas em marcas famosas, listras e estampas. Hipsters, julgou Anton enquanto os observava. Só pra completar a grande semana que estava vivenciando, notou que Steve, por obra do destino, pareceu se esquecer de apresentá-lo devidamente aos presentes. Resolveu ficar calado, fazendo o seu melhor para falsear um sorriso desinteressado.
Os caras pareciam não se importar com muita coisa; bebiam e fumavam à moda urbana tresloucada, rindo da desgraça alheia e comentando sobre os detalhes mais infames de suas vidas. Fingiu interesse em um causo contado pelo mais baixo deles, cara de fuinha, e forçou uma risadinha ao fim da piada, para que tudo soasse com a casual naturalidade humana. Claro, todos deveriam rir daquela piada sobre obesos. Todos deveriam rir de qualquer piada contada naquela noite, até das mais desgraçadas, pra poder se encaixar naquele padrão angustiante de vida. Não rir seria considerado rude, cínico, antissocial e ilógico. Que porra era aquela? Assim pensava Anton quando se deu conta de que poderia estar com a carranca vestida. Bloqueou tais pensamentos.
Steve socou uma latinha de qualquer bebida em seu peito e nem mesmo lhe dirigiu palavra. Continuava com aquele sorriso maravilhoso que completava sua beleza, tão agradável aos olhos de Anton. Porém, infelizmente na vida beleza não é tudo. Em menos de seis meses juntos, Anton já não conseguia mais suportar muitas das atitudes do companheiro. Nem sabia ao certo o real motivo que foi capaz de sustentar essa relação por mais de uma semana; mas ele procurava não pensar muito nisso. No momento estava mais preocupado em causar uma boa impressão, pelo menos até o fim da noite, na tentativa de evitar rebuliços desnecessários a longo prazo. Steve certamente reclamaria se algo acontecesse perante seus amigos.
A natureza insuportável do piadista continuava causando mal-estar em Anton, que desviou a atenção das risadas guturais para depositá-la mais uma vez na observação de todos os presentes. Deu-se conta que estavam em casais. O baixinho chato trocava gracejos e olhares com o homem ao lado dele, aparentemente mais velho e também bonito. Os outros dois, um loiro e um moreno, formavam um casal digno de capa de revista – tal pensamento lhe fez indagar que talvez fosse um deles o “famoso”. Todos eram como deveriam ser: lindos. Até mesmo o piadista. Jovens adultos, com a vida à flor da pele, independentes, ricos, sem grandes preocupações... Isso o irritava. Estava ele ali naquele posto, ponto de encontro de jovens alternativos, pronto para curtir uma típica noite de sexta-feira como qualquer outro indivíduo daquela laia. A verdade era que Anton se sentia como um peixe fora d'água, imerso em seu próprio clichê.
Por um momento, para ele aquela se tornou uma situação tão engraçada que deixou escapar uma risadinha irônica fora de contexto. Os caras "capa de revista" olharam rapidamente para ele, despreocupados, porém atraídos pelo som da risada, talvez se questionando se o garoto desconhecido tinha algum problema mental. Anton rapidamente disfarçou engasgo com uma tossezinha seca, levando o punho fechado até a boca:
"Essa bebida..."
Continuaram a conversa como se nada tivesse acontecido. Contudo, ele percebeu que um dos caras, o loiro, se demorou mais em desviar a atenção. Seus olhares se cruzaram por alguns segundos antes de Anton, desconcertado, fingir interesse em uma falsa mensagem recebida no celular. Pegou-o no bolso e apertou teclas aleatórias antes de devolvê-lo. É claro que não haveria de receber mensagens. A única pessoa em meses que lhe enviava mensagens era o próprio Steve, que por acaso estava ali mesmo, do seu lado, ainda que não fizesse questão de ser notado. Steve, contudo, não era um imbecil. Ele sabia que aquele sorriso repleto de dentes alvíssimos era somente o mais fácil dos aspectos capazes de atrair a atenção de qualquer um. Anton começava a se questionar até quando deveriam permanecer de pé naquele lugar quando o piadista olhou para o casal capa de revista e lançou:
"Vamos, então?"
Todos acenaram positivamente, deixando transparecer alívio imediato. Não mais que Anton, que soltou um suspiro sonoro ao se virar em direção ao carro de Steve. Ele não sabia para onde iriam, mas também não se preocupou em perguntar. Obviamente o próximo point seria alguma balada caríssima, onde deixaria, ao sair, metade do salário recebido no mês. Ou até mesmo algum dos famosos pubs que vinham frequentando ultimamente. Resolveu não gastar energias com indagações dessa natureza. Já estava com o pé na cova mesmo; não haveria razões coerentes para tentar sair feliz dessa noite, pois certamente fracassaria se tentasse. E cansara-se das tentativas infrutíferas. Aquela relação estava imersa em incoerências.
"Você não disse uma palavra até agora", lançou Steve, já no volante.
Anton nem se preocupou em erguer as sobrancelhas em surpresa. Já era típico receber alguma reclamação, pois Steve implicaria até se ele piscasse em hora errada.
"Se já chegamos às reclamações, você ao menos poderia ter me apresentado a eles." Continuaram num bate-boca afável pelos dez minutos que se seguiram. Steve reclamava de pontos que ele não gostava em Anton, enquanto este pontuava a base das coisas que o irritavam naquele relacionamento. Essa era a dose diária da pequena guerra pessoal que ambos travavam há alguns meses. Aquilo já havia se instalado como uma característica infeliz na vida que levavam. Na maioria das vezes Anton procurava não se exaltar em indagações a fim de evitar levantar a voz, o que iria contra tudo em que acreditava, mas por vezes era difícil controlar. Hoje não seria diferente. Ele procurou sustentar o silêncio que se fez de repente dentro do carro, tentando descobrir para onde se dirigiam.
O carro se enveredou por uma avenida bastante movimentada e seguiu em linha reta até que virasse a direita em uma pequena ladeira. Ali estava erguido um dos hotéis mais famosos da cidade. Porque raios eles estavam ali, Anton só conseguiu imaginar quando já estavam dentro de um dos apartamentos. Ainda assim agradeceu aos céus por não ter de se enfiar em um formigueiro de pessoas naquela noite. Durante a subida até lá, eram bastante visíveis as orgias que o hotel sediava; Anton julgou ter visto pelo menos dez pessoas seminuas vagando bêbadas pelos corredores. Odiosas sextas-feiras. Ficou claro para ele que o apartamento pertencia ao "capa de revista" loiro, pois foi ele quem plugou a chave na fechadura e convidou-os a entrar.
Era uma suíte simpática, não muito grande, mas certamente suficiente para prover conforto e privacidade aos que ali residiam. Anton deixou Steve socializando com o piadista na cozinha, enquanto pegavam bebidas, e foi se sentar no sofá de tecido riscado. Na mesa de centro estavam dispostas algumas revistas, cinzeiros e muitos papéis de bala. Esse último detalhe chamou atenção de Anton, que até hoje não conseguia entender a cisma que tinha em observar tudo ao seu redor. Talvez por isso fosse tão calado, amuado. Surpreendeu-se com a chegada do "capa de revista" moreno, que se achegou e sentou ao seu lado, acendendo um cigarro.
"Importa-se?", perguntou, apontando para o cigarro aceso. Após Anton dizer que não, continuou: "Esse vício me pegou de vez. Não sei por que fumo, sério." Anton esboçou um sorriso.
"Você é Anton. Steve falou sobre você."
Esse foi o primeiro comentário da noite que fez com que ele esticasse a face em uma verdadeira expressão de surpresa. Steve o citando em em uma conversa? Inacreditável. Tentou disfarçar o espanto desviando o olhar de volta aos papéis de bala. Continuou calado.
"Você não é muito de falar. Bom, então falo eu. Detesto quando as pessoas não se sentem integradas a um grupo. Não, calma, não é um ataque a você. Eu juro! É que eu já passei por isso e acho bem irritante quando estamos desse lado da moeda. Por isso tento interagir com todo mundo, tento integrar."
Bem, não estava funcionando.
"Falo bastante, às vezes", arriscou Anton.
"Falar é bom."
Talvez ele esperasse que essa frase surtisse efeito em Anton, mas não foi o que aconteceu. Ele simplesmente assentiu e continuou calado, sustentando aquele silêncio no mínimo constrangedor que assombra diálogos com desconhecidos. Mas Jamie permaneceu fumando e observando a fumaça que subia, despreocupado.
"Vou pegar minha câmera. Segura pra mim?"
Passou a garrafa de cerveja pra Anton, que a pegou, desconcertado, enquanto assistia o moreno sumir nas entranhas do apartamento. Todos estavam reunidos agora na sala, já razoavelmente bêbados, assistindo a algum programa de TV inútil que pipocava diante de seus olhos. Anton ainda segurava a cerveja de Jamie quando este voltou distribuindo flashes pelo cômodo sem se preocupar em enquadrar. Certamente aquelas fotos não sairiam da câmera. O homem mais velho, namorado do diminuto piadista, já estava sem camisa rebolando ao som de um comercial. Era ridículo. Se tais fotos caíssem em mãos erradas, na manhã seguinte estariam todas sendo compartilhadas nas redes sociais. Anton não se preocupou.
Em certo ponto da noite, o seminu e o piadista começaram a se amassar no sofá, mas os outros pareciam não se importar. A sexta-feira continuava fazendo vítimas. Como já visto, não era só ali que a noite boêmia abraçava seus fiéis praticantes. Na maioria dos apartamentos naquele hotel as pessoas estariam fazendo muito mais que dormir, pois se ouvia pelo menos cinco fontes de músicas distintas soando pelo ar. Naquela altura Anton nem ligava para o que Steve fazia ou dizia. Ele continuava lá, absorto em risadas, com a camisa entreaberta até o meio do peito, lançando eventuais olhares em sua direção, com aquele sorriso encantador. Do lado de cá, Anton tentava parecer sociável. Tinha estabelecido um pequeno diálogo com Jamie, que parecia ter se esquecido da bebida que dera a ele, pois estava com outra garrafa em mãos.
"Então você é fotógrafo", comentou Anton.
"Sim. Faço ensaios pra uma pá de gente espalhada nessa cidade. Não me pergunte quais, porque agora eu não estou em condições de me lembrar!". E soltou uma gargalhada sonora. "Já fiz vários ensaios do meu... Cadê, aliás?"
E procurou pelo namorado com seu olhar, sem sucesso. Teve a visão corrompida por Steve, que chegava para se sentar entre os dois. Ele enlaçou os ombros de Anton com um braço e avançou para roubar-lhe um beijo bem molhado de cerveja.
"Arrumem um quarto todos vocês!", zombou Jamie, divertido.
Apesar de odiar o gosto da cerveja, Anton retribuiu o beijo. Os lábios de Steve era outra das coisas facilmente capazes de atrair a atenção de qualquer um, principalmente de Anton. Eram vermelhos e sedosos, como grandes framboesas. Essa analogia parecia extremamente pobre para Anton, mas era assim que conseguia visualizá-los e era assim que se sentia ao beijá-los: experimentando saborosas framboesas. Arrependeu-se do beijo logo que se desvencilhou do outro. Estava irritado há semanas; se Steve achava que algumas carícias seriam suficientes para acertar toda a desavença presente na vida de ambos, ele estava bastante equivocado. Afastou-se e deixou-o esperando sentado por mais afetos.
"Onde é o banheiro?", Anton perguntou a Jamie, que apontou o caminho.
Não tinha a mínima vontade de ir ao banheiro aliviar-se. Só queria sair dali, ficar longe dos olhares de todos, finalmente sozinho por algum tempo. Fechando a porta atrás de si, deu de cara com o imenso espelho do lavabo. Não teve outra opção senão encarar a si mesmo: olhos baixos marcados pela privação de sono, lábios excitados, carranca. Em vão, jogou água sobre a pele ressentida, mas nem aquele sabão nobre seria capaz de apagar os sinais da solidão agora tão calcados em sua expressão. Seria preciso pontuar os "is" e cortar os "tês", deixar claro tudo o que sentia, escutar todas as reclamações possíveis, digeri-las e voltar a viver sua vidinha pacata no interior do estado. Com ou sem Steve. Pensando nisso, Anton enxugou as mãos na toalha branca e apertou a descarga em ato de puro fingimento antes de sair do cômodo.
Seguiria direto de volta para a sala da perdição, para os atos de amor de Steve e a pouca vergonha dos outros se não fosse pelo ruído fraco que ouviu através da porta entreaberta de um dos quartos contíguos. Sem razão aparente ­– mas fazendo de tudo para retardar sua volta ao bacanal –, Anton seguiu pelo corredor em direção oposta à sala. Conforme se aproximou das entranhas do apartamento, o ruído aumentou sua sonoridade, revelando curtos suspiros e resmungos. Não ligava se estivesse se intrometendo na vida íntima dos moradores, ou mesmo xeretando através da simples curiosidade que sentia, mas empurrou a porta de um dos quartos, abrindo-a de leve. O que encontrou não foi animador. Estava ele lá, sentado na cama com o rosto enterrado entre as mãos. Era o "capa de revista" loiro, o anfitrião, que, ao reparar na presença de Anton, limpou com as costas da mão as lágrimas que lhe escorriam pela face, visivelmente embaraçado pela situação.
"Desculpe", pediu Anton.
O homem não respondeu. Apenas continuou olhando para Anton com aqueles olhos azuis cravejados, brilhantes e avermelhados. Anton ameaçou sair para deixá-lo sozinho em seu momento de privacidade, mas o outro lhe interrompeu o ato:
"Não está muito animadora essa noite, não é?"
Sem saber o que responder, Anton apenas concordou com a cabeça, ainda de pé, segurando a porta entreaberta. Achou que deveria dizer alguma coisa. Havia falado pouco até então, Steve mesmo havia pontuado isso no carro mais cedo. Se houvesse algum momento em que ele deveria gastar suas palavras, o momento teria de ser aquele. Completou o ato de fechar a porta, mas permaneceu dentro do quarto.
"Está tudo bem?", perguntou, sem jeito.
"Não sei. Deveria estar. Devo ter bebido demais, não sei."
Anton deixou-se levar.
"Você não me parece bem."
O loiro riu. Os dentes brancos apareceram, irônica e rapidamente, em contraste com a expressão melancólica que exibia naquele momento, mas logo voltaram a se esconder.
"Você tampouco". Como Anton nada respondeu, ele continuou: "Não é difícil notar."
"Eu sei. É que você está chorando."
"Como um palhaço de circo. Um bebê que se esconde no quarto pra chorar as mágoas enquanto o resto do mundo se diverte."
"Como você disse, a noite não está muito animadora."
Assentiu. Permaneceram em silêncio durante um momento; o homem enxugando as lágrimas enquanto Anton olhava para baixo sem saber o que falar em seguida. Era uma situação ridícula. Ele ali naquele quarto de hotel com um desconhecido em prantos, em uma noite infortunada e pífia, sem o mínimo tato para oferecer. Achou que deveria falar alguma coisa.
"Desculpe, eu não sou exatamente um bom ombro amigo."
Mais uma vez o loiro riu, dessa vez olhando para Anton.
"Acredite, você parado aí já fez mais por mim que muitos naquela sala."
"Não é difícil acreditar."
"Você e Steve estão juntos há quanto tempo?", lançou.
"Não é oficial. Nos conhecemos há seis meses."
"Entendo."
Mais uma vez o silêncio.
"Não fomos devidamente apresentados. Sou Keith, mas você já deve saber."
"Descobri agora. Steve não me falou nada sobre vocês."
"Jura? Ele demorou seis meses para te apresentar aos amigos..."
"Pois é. Imagino que você seja a celebridade", disse mais para si que para o outro.
"Celebridade...". Keith parecia achar graça. "Você não me conhecia até agora."
"Não sou muito ligado a esse mundo popular. Desculpe."
"Você já se desculpou três vezes em menos de cinco minutos. Não te culpo por não me conhecer. Essa vida underground é para poucos, ouso dizer. É um saco."
Silêncio. Anton já era um parvo em dialogar com pessoas em momentos descontraídos. Estar agora em um diálogo sem contexto era ainda mais complicado. O homem na sua frente era um famoso músico para o resto da cidade, mas para ele era como se fosse só mais um cara metido a alternativo que saía por aí fazendo farra. Pensando bem, nessa situação Keith não se parecia com nenhum deles. Belo equívoco. Parecia despido de qualquer máscara social, nu e cru. Tinha parado de chorar, mas ainda estava triste e melancólico.
"Escute", começou o loiro, "me perdoe por você ter visto isso."
Anton apenas relaxou.
"Tudo bem, não precisa se desculpar."
"Acho que devemos voltar pra sala."
"É."
"Vou lavar o rosto."
Keith se levantou e seguiu para o banheiro. Anton permaneceu sentado na cama por um momento, analisando a situação. Que estranho era conversar com alguém choroso. Um homem feito, maravilhosamente bem construído, digno de capa de revista, chorando. Loiro de olhos azuis, famoso e rico, chorando. Não sabia a que se devia tudo aquilo, mas certamente nada de bom seria motivo para despertar no outro sentimentos tão melancólicos a ponto de fazê-lo chorar. Pelo jeito ele também não era muito de falar, tal como Anton o era. Mas de que adiantava refletir sobre aquilo? Na sala Steve o esperava. A vida continuaria, quer ele queira, quer não. Ainda iria a mais mil festas, visitaria mais mil pessoas com as quais não teria interesse nenhum em conversar.
Ainda assim, levantou da cama sem ao menos saber que naquela noite insignificante, naquele quarto abafado em penumbra, em meio a lágrimas, silêncios e equívocos, ele tinha construído algo novo.

Durante todos esses anos jogando Guild Wars 2, boa parte do meu tempo dediquei a "fotografar" as viagens que meus personagens fazem através do mundo de Tyria. Sempre quis reunir em um lugar algumas das paisagens que me agradam nesse jogo que só me surpreende a cada dia. Das densas florestas de Maguuma até os vastos desertos de Elona, separei 26 imagens que talvez retratem um pouquinho o quão belo esse jogo é. Não vejo a hora do lançamento de Guild Wars 2: End of Dragons no mês que vem pra poder me aventurar pelo continente de Cantha e descobrir novas paisagens!

Lembrando que todas são screenshots que tirei in game, passei algumas por edição pra deixar mais apresentáveis, minhas configurações de gráfico não são das melhores. Podem culpar meu PC pelos serrilhados e/ou falta de resolução, ainda não tenho uma máquina moderna pra poder aproveitar todo o potencial do GW2.

"Dininity's Reach" (Kryta, Jogo Base) | Ver original

"Diessa Plateau" (Ascalon, Jogo Base) | Ver original

"Fawcett's Bounty" (Kryta, Jogo Base) | Ver original

"Snowden Drifts" (Shiverpeak Mountains, Jogo Base) | Ver original

"Tangled Depths" (Maguuma Jungle, Heart of Thorns) | Ver original

"Tarir, The Forgotten City" (Auric Basin, Heart of Thorns) | Ver original

"Crystal Oasis" (Crystal Desert, Path of Fire) | Ver original

"Glint's Lair" (Desert Highlands, Path of Fire) | Ver original

"The Astralarium" (Domain of Istan, Living World Season 4) | Ver original

"The Astralarium" (Domain of Istan, Living World Season 4) | Ver original

"Gandara, The Moon Fortress" (Domain of Kourna, Living World Season 4) | Ver original

"Kralkatorrik's Emergence Zone" (Grothmar Valley, The Icebrood Saga) | Ver original

"Petraj Overlook" (Drizzlewood Coast, The Icebrood Saga) | Ver original

"Dragonstorm" (Far Shiverpeaks, The Icebrood Saga) | Ver original

"Doomlore Ruins" (Grothmar Valley, The Icebrood Saga) | Ver original

"Doomlore Ruins" (Grothmar Valley, The Icebrood Saga) | Ver original

"The Overlook" (Grothmar Valley, The Icebrood Saga) | Ver original

"Fractured Lake" (Bjora Marches, The Icebrood Saga) | Ver original

"Fractured Lake" (Bjora Marches, The Icebrood Saga) | Ver original

"Whispering Depths" (Bjora Marches, The Icebrood Saga) | Ver original

"Sifhalla Ruins" (Far Shiverpeaks, The Icebrood Saga) | Ver original

"Sun's Refuge" (Jahai Bluffs, Living World Season 4) | Ver original

"Sun's Refuge" (Jahai Bluffs, Living World Season 4) | Ver original

"Sun's Refuge" (Jahai Bluffs, Living World Season 4) | Ver original

"Yatendi Village" (Jahai Bluffs, Living World Season 4) | Ver original

"Pact Vanguard View" (Jahai Bluffs, Living World Season 4) | Ver original


Talvez O Conto da Aia (Handmaid’s Tale) seja a obra mais famosa da Margaret Atwood atualmente, devido à popularidade da série de televisão no Brasil e no mundo. Quem assiste a série percebe como a autora é crítica a padrões de pensamento e comportamento na sociedade humana, retratando de forma gráfica os absurdos caminhos que a realidade pode tomar e vem tomando. Através da experiência de Offred, ou June, são discutidas questões de gênero, sexualidade, religiosidade, dentre outros, retratando de forma dura até onde o ser humano pode chegar pra defender seus ideais, sejam quais forem.

Em 2019 me dei a chance de conhecer outros trabalhos da autora e me deparei com as publicações da Editora Rocco, que trouxe pro Brasil outra obra dela que também é bem conhecida no exterior, a trilogia MaddAddão. Antes de ler O Conto da Aia eu já sabia da existência dessa trilogia, que tinha aparecido bastante nas minhas buscas por melhores séries de ficção científica e, como sou amante de sci-fi e também da autora, não pude deixar de ler. Nessa distopia, Atwood segue fazendo críticas aos padrões de pensamento e comportamento humanos, mas aqui temos um viés não explorado na outra obra: a ciência – e é isso que torna tudo tão incrível pra mim na trilogia.

Vou deixar uma breve sinopse sobre cada livro da série e também minhas opiniões sobre a trilogia num geral, sem spoilers.

No primeiro livro, Oxyx e Crake, somos apresentados ao Homem das Neves, um cara meio louco que vive em cima de uma árvore à beira de uma praia e anda por aí nu, usando um boné e óculos escuros. O Homem das Neves acredita ser o último sobrevivente humano da pandemia que exterminou toda a raça humana do planeta e tenta sobreviver em meio aos escombros da sociedade. O livro alterna entre o seu presente nesse mundo pós-apocalíptico e seu passado como Jimmy, um garoto que se muda pra um complexo científico onde o pai trabalha como engenheiro genético pra uma grande corporação, a HelthWyzer. É lá que ele faz amizade com o excêntrico Crake, com quem irá compartilhar boa parte de sua vida a partir daí.


Artes das capas nacionais, por Laurindo Feliciano

O Ano do Dilúvio, o segundo livro, nos apresenta mais duas personagens dessa distopia: Toby e Ren. Assim como o anterior, esse livro também alterna entre passado e presente e, através das narrativas de ambas, vamos conhecendo mais sobre o funcionamento da sociedade futurista de antes da grande pandemia, assim como sobre suas vidas atuais nesse mundo devastado e dominado por animais geneticamente modificados. Ambas fazem parte dos Jardineiros de Deus, um grupo meio hippie e pseudo-religioso que tem como princípio básico a preservação da natureza, mas que esconde segredos em suas entranhas.

O livro que fecha a trilogia e também dá nome a ela, MaddAddão, nos leva a conhecer melhor o passado de um dos personagens mais turrões da série, Zeb, e aprofunda sua relação atual com Toby e Ren, bem como com os demais sobreviventes. É nele que todas as narrativas se encontram e culminam no clímax da trama iniciada no primeiro livro, com direito a visitas à cenários anteriores, respostas e encerramentos.

Comentários

A maior crítica da autora nessa série talvez esteja direcionada às grandes corporações e seus maiores interesses financeiros, voltados pro consumo em massa de produtos nem tão saudáveis, muitas vezes sintéticos e que beiram o antiético. Consegui perceber que, por mais que estejamos falando de um universo fictício, a aproximação da história com a nossa realidade é gigante e fica evidente quando a autora critica corporações por trás de grandes redes de fast food, produtos de beleza e até da indústria do entretenimento.

Achei demais a forma como essa realidade influencia diretamente as vidas de cada uma das personagens apresentadas, como reagem ao desenvolvimento das tecnologias e também como passam a sobreviver sem essas facilidades do mundo moderno, algo que os Jardineiros já aprendem a lidar antes mesmo do Dilúvio ¬– o nome que eles dão pra pandemia viral que dizimou a população.


O Homem das Neves e Toby, por Sean McMurchy

Margaret Atwood é ótima em escrever personagens complexos, expressando muito bem quais são suas motivações, interesses e preocupações, evidenciando a personalidade de cada um e seu desenvolvimento na trama. É incrível observar a construção do universo em que se passa a história: uma sociedade onde a ciência é tão avançada a ponto dos seres humanos serem capazes de modificar a genética a seu favor, criando animais como: híbridos entre espécies, porcos projetados pro cultivo de órgãos humanos e carne pra consumo, ovelhas criadas pro cultivo de cabelos pra implantes capilares e até uma raça de humanos geneticamente modificados, os crakers.

Outros pontos que acho legal destacar são: as relações das personagens com os crakers, a visão que os crakers têm dos hábitos da nossa sociedade, a crítica às religiões e sua relação econômica com as megacorporações e principalmente a facilidade que a autora tem de apresentar tudo isso de forma bastante didática, nos deixando ansiosos pelo próximo capítulo. Pra quem gosta de distopia e ficção científica pós-apocalítica é um prato cheio, ainda que não seja uma trama das mais convencionais. Essa história tem elementos comuns à outras do gênero, mas também apresenta novas ideias, o que consagra Margaret Atwood como uma das maiores escritoras da ficção especulativa.


Eu e o Lipe decidimos neste ano criar um projeto de leitura pra nós, pensando em quebrar recordes e alguns tabus pessoais em relação a livros de forma geral. Cada um enumerou em itens algumas metas a serem alcançadas, levando em consideração desejos que queremos sanar em 2018. Minha lista ficou menor, mas ainda sim acho que são desafios suficientes pro meu ritmo de leitura. Vamos lá:

1. Ler uma série completa
Em 2017 eu consegui ler os quatro livros que compõe a Saga dos Corvos (Maggie Stiefvater) e felizmente acabei adorando cada momento. Ler uma série toda em um curto período de tempo foi uma experiência nova e ótima e por isso eu quero repetir neste ano. Agora em janeiro eu já li o primeiro volume da Saga Otori e adorei, então provavelmente essa será a série a ser lida completinha em 2018 (espero ter acesso aos outros livros rápido).

2. Ler um grande autor (ou mais)
Costumo ler livros de autores diferentes eventualmente, mas nos últimos tempos tenho só lido coisas de quem já conheço, como Brandon Sanderson, ou de autores que sempre estiveram na minha zona de conforto. Grandes nomes como Tolstói ou Dostoïevski nunca estiveram no meu horizonte de leituras, e por isso esse ano eu quero conhecer algum deles. Provárel: Dostoïevski.

3. Ler um livro nacional (ou mais)
Nacionais praticamente nunca estão nas minhas listas de leitura (lamentável). Meu maior contato com autor nacional foi com Érico Veríssimo, cujos livros lidos são muito queridos por mim, como Clarissa, Música ao Longe e Caminhos Cruzados. Vou querer ler mais livros dele esse ano, mas meu foco maior deve ficar em novos autores. A onda crescente de autores brasileiros que escrevem fantasia despertou mais o meu interesse em ler livros nacionais mais recentes. Provável primeira leitura: A Ordem Vermelha - Felipe Castilho.

4. Ler um livro da Virginia Woolf (ou mais)
A primeira vez que li essa autora eu me apaixonei. Foi com A Viagem, o primeiro romance que ela escreveu. Até então, a tal da técnica de escrita que a tornou famosa (o fluxo de consciência) não tava muito bem instalada ainda nessa obra, então eu não pude ter contato real com ela, e eu quero. Então ler mais livros da Virginia está nos meus planos de leitura pra este ano, até porque é uma autora com a qual eu me identifiquei logo de cara.

5. Ler um clássico (ou mais)
Ta aí outra categoria de livros que nunca está nos meus planos de leitura. Os "clássicos" sempre me assustaram, ano passado comecei a ler Os Miseráveis e, ainda que eu tenha abandonado depois do terceiro tomo (não aguentei muito as partes históricas, são muitas), tive uma boa experiência. Quero repetir a boa experiência com outras obras que são consideradas clássicas, e quem sabe até terminar de ler esse. Ainda não faço ideia de qual obra clássica lerei, mas O Morro dos Ventos Uivantes no momento tá me apetecendo mais.

6. Reler os 8 livros de Harry Potter
Sou daqueles que cresceram lendo Harry Potter. Li A Pedra Filosofal quando o livro saiu no Brasil em 2000, por indicação de um garoto que só vi uma vez (serei eternamente grato a você, garoto que nem lembro o nome), ele me explicou a trama de forma tão apaixonada que eu acabei me apaixonando na hora sem nem mesmo ter lido. Enfim, já reli pelo menos uma vez cada um deles, mas faz tempo, e me veio essa vontade de revisitar Hogwarts através das páginas, e não dos filmes, então vamos tentar.

7. Ler mais mangás
Abandonei minhas raízes otaku há muito tempo, MAS, no ano passado comecei a colecionar duas séries em mangá, Ajin e Inuyashiki, e retomei um pouquinho das raízes, ainda que na minha era de ouro otaku nunca tenha lido muitos mangás além de Evangelion e X/1999. Gostaria de retomar esse hábito (até porque tem surgido muitos mangás com tramas interessantíssimas) e então tenho como meta seguir essas duas séries mencionadas, pelo menos.

That's all folks.

Eu sempre tive vontade de ler algumas autoras clássicas, mas na maioria das vezes tive preguiça em começar algum romance. Porém, uma vez vencida a preguiça pude conhecer os universos criados por mulheres marcantes, tais como Agatha Christie e Virginia Woolf. Muita gente sabe que V. Woolf foi uma mulher de personalidade forte, e quem não é tão familiarizado certamente já teve a oportunidade de assistir ao filme As Horas e observar de perto um período peculiar da vida da autora. Contudo, pra poder falar um pouco sobre ela e essa obra em particular, tomo a ajuda de Antonio Bivar, membro da The Virginia Woolf Society of Great Britain, que escreve o prefácio de A Viagem.

A Viagem marca o início da obra de Virginia Woolf, sendo o primeiro romance a ser escrito pela autora. O livro demorou cerca de 10 anos para ser escrito e publicado, e nesse período de tempo Virginia sofreu com a perda do pai, casou-se e mudou-se para Bloomsbury, onde finalmente pôde dedicar-se melhor à escrita do livro, que foi publicado pela primeira vez em 1915. Entretanto, antes desse período Woolf já havia passado pelo sofrimento da morte da mãe, da meia-irmã e também do irmão Thoby, o que desencadeou sérias crises depressivas e tentativas de suicídio, resultando em um longo internamento após a publicação do livro. Virginia iria ainda passar por diversos períodos difíceis em sua vida até seu suicídio em 1941, e muito do que ela sentia e pensava durante esses períodos pode ser claramente observado em suas obras.

Com A Viagem não é diferente. Através de um cunho autobiográfico, ela vai contar a história de Rachel Vinrace – uma então inocente moça de 24 anos, cujo pai é dono de navios cargueiros –, que parte em uma viagem a bordo de um dos navios do pai, o Euphrosyne. Rachel é educada sub a tutela de Helen Ambrose, irmã de sua falecida mãe, e passa a conhecer as verdades da vida através da convivência com pessoas a quem antes não estava acostumada. A viagem acompanha um pequeno grupo de pessoas, no qual Rachel e Helen se incluem, que ao fim do séc. XIX zarpam do porto de Santa Marina para desembarcar em uma villa burguesa da América do Sul, situada “na boca do rio Amazonas”. Lá o leitor se depara com muitas personagens, que se relacionam durante esse período em que todas estão longe de casa.

Com eles somos levados a diversas situações de gente que, sinceramente, não têm muitas preocupações na vida além de matar o tempo e fofocar sobre a vida dos outros ali presentes. Piqueniques, bailes, chás e passeios, sempre regados a uma boa conversa simples e sem compromissos. Nesse cenário tropical, Rachel começa a se desprender das pregas da sociedade tradicionalista da Inglaterra onde fora criada, aprendendo com Helen formas mais modernas de viver. Ela encontrará com homens que a desejam (Mr. Hewet), com mulheres a quem toma como exemplo a seguir (Clarissa Dalloway, protagonista do romance Mrs. Dalloway (1925), a quem Rachel conhece ainda a bordo do navio) e com figuras dispostas a discutir filosofia e o modo de vida burguês (Mr. Hirst).

Virginia Woolf nos transmite o processo integral de pensamento das personagens através da famosa técnica (hoje assim chamada) do fluxo de consciência, também usada por diversos escritores, como James Joyce, William Faulkner, ou até mesmo os brasileiros Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Hilda Hilst, constituindo assim sua grande marca narrativa. Ela foge dos pensamentos de Rachel para também nos mostrar com transparência os de todas as outras personagens que se encontram na villa, ou mesmo no grande hotel que lá existe, a refletir sobre qual é o seu espaço no mundo.

Por fim, como um leitor iniciante na obra de Virginia Woolf, considero A Viagem um livro de grande importância pra quem deseja começar a ler a autora. Ele nos apresenta sua forma de escrever e narrar – que difere muito do que estamos acostumados a encontrar em autores mais recentes – e também, através do constante teor existencialista, uma nova e peculiar forma de olhar e refletir sobre nossas próprias vidas.

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